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10 de mar. de 2009
Diario de bordo do CRUZEIRO COSTA ROMANTICA
Depoimento de um passageiro baiano do navio Costa Romantica.
AOS AMIGOS DA NET E PESSOAL DO TRADE DE TURISMO
Diário de bordo de um amigo durante o cruzeiros para Buenos Aires do COSTA ROMANTICA que pegou fogo !!!
Subject: Eu no TITANIC.......
Meus dias de TITANIC.
História verdadeira de uma viagem que pelo acaso, ou pelas amigas que juram que não puseram olho grande, mas desejaram até que eu encontrasse pérolas no fundo do mar, terminou bem.
Fui para o Rio de Janeiro em 20 de fevereiro, onde assisti ao desfile das escolas de samba.
Dia 23, segunda-feira, embarquei no navio COSTA ROMÂNTICA, com destino a Buenos Aires. Foi lindo e empolgante. O navio maravilhoso, com 12 andares mais 2 de anexos. Nos 2 últimos andares, tínhamos 2 piscinas, milhares de cadeiras extensiveis, boate, teatro, 4 restaurantes, free shop, 3 banheiras com hidromassagem, salão de beleza, sauna, sala de ginástica, bar com deck panorâmico e cassino.
Primeiro dia:
tudo correu bem, entre divertimentos e o camarote, que era bem legal, com cama, frigobar, televisão com TV a cabo, banheiro bem equipado (tinha até secador de cabelo), todo acarpetado, guarda-roupa, ar refrigerado, e tinha até um camareiro filipino, que não entendia nada, língua nenhuma. Eu mandava ele tomar no cú, e ele ria. Aliás, ele ria de tudo. Acho que estava rindo da minha cara.
Segundo dia: As maravilhas se tornaram cansativas e repetitivas. Eu comia e lia meu bom livro. Eu só pensava em descer. Estava de saco cheio daquilo e de tantas línguas estranhas. Teve um dia que falei em 7 idiomas com a mesma pessoa, prá me fazer entender. Falei português, portunhol, espanhol, castelhano, italiano, inglês e arranhei no francês. Estou com a língua dura de tanto dobrá-la. Nessa noite o mar estava agitado. Ondas de 10 a 12 metros. Parecíamos bêbados andando por ali, nos segurando e caminhando tortos. A cama parecia uma rede onde alguém te balançava.
Terceiro dia: Quarta-feira - Acordei por volta de 9 horas e só fui dormir sexta à noite, por volta das 3 da madrugada, e já era sábado.
Foram 60 horas sem dormir.
Transcorreu normalmente, eu de saco cheio, doido que acabasse aquele maravilhoso cruzeiro, onde me faltou emoção. Eu a desejei. Cuidado com o que você deseja. Você pode ser atendido.
Eu havia jantado no primeiro turno. Era dividido em dois, pela quantidade de passageiros. Por volta das 22 horas, entrei em minha cabine e senti cheiro de queimado.
Tentei avisar ao camareiro, que não me entendeu. Ia pegar o telefone para ligar para a sala de comando, quando o navio estremeceu e as luzes se apagaram. Tudo parou. Nada Funcionava. Gritos. Uma voz ao interfone chamando todos para o convés.
Havia um incêndio no navio.
Pânico geral. Pessoas corriam, tinha uma enorme quantidade de velhos de bengalas e 2 em cadeiras de roda. Os elevadores também pararam de funcionar. As escadas entupiram. Gente com colete salva-vidas. Portas contra incêndio se fechando, separando as pessoas. Fumaça e falta de ar, pois o ar-refrigerado também parou. Parou tudo. Água, descargas, cozinha....tudo dependia da energia.
E o incêndio fora ali, na parte elétrica.
Corremos para o convés. Todos estavam ali, com pouca iluminação (só a de emergência) e os bombeiros com enormes mangueiras que jogavam água do mar sobre as 3 imensas chaminés, de onde saia muita fumaça. Tempos depois, incêndio apagado, navio apagado, nós apagados.
Sobrevivência: parte 2
O pessoal do segundo turno do restaurante, ficou sem jantar.
Pouco tempo depois, sem ar, sem água, os banheiros começaram a transbordar.
Era merda prá tudo que é lado. Sem iluminação nos banheiros, quem entrava, pisoteava cocô que havia sido feito pelo chão, escorregava e caía sobre os mesmos. O cheiro se tornou insuportável. Não podíamos dormir nas cabinas sem ar. Pegamos cobertores, lençóis e toalhas, levamos para cima e os espalhamos pelo chão. O fino restaurante virou um hospital de guerra, tudo foi tirado do lugar. Poltronas viraram camas improvisadas, corredores pareciam os hospitais do SUS.
Não havia comida, serviram mariscos com forte cheiro de azedo, pão seco com finíssimas tiras de mortadela e tomate. Você não podia parar para imaginar as mãos que prepararam aquele banquete, pois se até as suas estavam imundas e podres.
O Dr. Bactéria se jogaria do navio.
Havia alguém com um poderoso telefone via satélite, que enviou imagens e mensagens para a GLOBO. Entrei em pânico imaginando minha mãe em desespero. Estávamos isolados do mundo, sem saber o que estavam vinculando nos jornais. Na quinta-feira a tarde, consegui descobrir o cara com telefone e paguei uma pequena fortuna para um telefonema de 4 minutos para minha mãe, que estava em prantos.
Quem conseguiria pregar o olho nesse caos, sem informações, com notícias trucadas e enganadoras, foram nos enrolando até a quinta a noite, quando disseram que barcos viriam nos buscar.
A luz foi recuperada e todos correram para dar descarga. NNNÃÃÃÃÃÃOOOOOOO.
Foi efeito contrário, a água na pressão, expulsou tudo de dentro dos vasos.
Começaram a descarregar-nos por volta das 23 horas. Eu consegui ir no barco por volta das 3 da madrugada. Era pequeno e balançava prá cacete. Desembarcamos em PUNTA DEL LESTE. Parecíamos bois em fila, caras cansadas, amarrotados, entrando em um ônibus (tinha fila deles), que nos levou até Montevidéu. Mais 2 horas de viagem.
Chegamos lá por volta das 5:30 da matina. Fomos para um hotel, tomamos banho, e nos jogamos na cama. Tínhamos 3 hs para descansar. Meu corpo estava como se fora atropelado por um caminhão. Não relaxei. Dei uma desmaiada, assustado acordei com pesadelos.
Tínhamos que seguir viagem por onde a Cia nos empurrava. Almoçamos uma carne que só podia ser de cavalo. Dura e sem gosto.
Outro ônibus para o porto para pegar uma barca que nos levou ao Buenos Aires. Mais 3 horas e meia de viagem.
Finalmente a Cia nos abandonou. Era sexta à noite, BUENOS AIRES.
O hotel era lindo pela internet, com belas fotos. Todas embelezadas com photoshop.
O hotel era uma merda. Saímos para jantar num restaurante chiquérrimo.
Ai que saudade do meu feijãozinho com arroz e ovo. Pagamos caro e comemos mal.
Fui tentar dormir. O colchão deve ter sentido amor enorme por mim, pois me fudeu a noite toda. Não consegui dormir. Eu queria desmaiar.
Os Argentinos nos tratam mal e grosseiramente. A comida é um horror.
Enfim, hoje estou em casa. Odiei tudo, mas continuo lindo.
Tive minha cota de emoções, e hoje tenho certeza, que cruzeiros, só pelo cinema.
E troquei o nome do meu navio de COSTA ROMANTICA, para COSTA DE MERDA.
Saudades de todos. Principalmente de mim. Ainda estou mareado, tonto, não sei se é do navio, se é falta de sexo ou se é labirintite. Kkkkkkkk
Beijos mil.
André Cassani.
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